Alguns Testemunhos

“Aqui vão umas notas sobre o que guardei do workshop, naquele lugar especial onde se guarda o que se encontra ou se constrói de efectivo valor e que estou certa que vou poder lá voltar, a esse lugar especial sempre que precisar!
Ao longo de anos, sem me aperceber vivi por miragens de objectivos entre a ansiedade de ser ou não capaz, o efémero contentamento de ter conseguido e, não raras vezes, a frustração, essa sim longa, de ter falhado…a vida era essencialmente isso… uma constante definição ou importação do exterior de objectivos no futuro, o peso da frustração dos fracassos (sem questionar o que é fracassar) e o efémero prazer de ter alcançado (não tendo de facto alcançado nada de tão essencial…
O cansaço acumulava-se e quase tudo parecia escasso…colecções de miragens alucinadas e alucinantes…
No workshop muitas coisas foram novas, emitir sons vocais para mim era difícil, a timidez do som, a perda e rouquidão súbita como resposta activa do meu não querer…o quê…expor-me? Permitir-me? Sim, permitir-me a não ter que fazer correctamente e bem, segundo padrões de qualidade definidos em prol de um qualquer resultado…estranho, então como fazer…seria apenas emitir um som…coisa simples? Simples? …depois foi o rir…mas rir, de quê? Tem que se ter um motivo, claro e especifico que justifique tal manifestação…como rir assim de nada? Apenas rir? …ao longo do wk a dinâmica do grupo, a perplexidade do que é simples foi criando aquele espaço interno de estar…talvez antes de ser tenha que se voltar a estar…ou talvez apenas eu que nem era nem estava …aí foi o momento em que vendámos os olhos…fechar os olhos sempre me deu uma vertigem…não querer perder o controlo…mas nesse ponto já o “calor do grupo” tinham criado um espaço seguro ou mais seguro…e de qualquer forma o treino de não ver já estava a ser feito…ou de reaprender a absorver o que me rodeia de outro modo, sem controlo, sem medo…após ter posto a venda senti um bocado de barro nas mãos, íamos fazer modelagem em barro…nessa altura já não haviam censuras internas sobre que não sei trabalhar em barro, que figura ia fazer…não, por esta altura já tinha desistido de me impedir…do quê? Não sabia…apenas senti o barro e constatei há quanto tempo eu não fazia nada do género, as recordações de infância e o abandono de brincar…de permitir-me explorar pelo prazer de o fazer…sem resultado à vista…é isso brincar? Porque não?...naquele momento estive…ali…a sentir o barro e as formas…as potencialidades que poderia imaginar…sem comparações, sem intenções…apenas isso…e por isso eu consegui estar…quando terminei, desfiz com um sorriso interno aquilo que fiz e refiz ao longo do tempo da actividade …não tinha importância…
…até hoje é isso que guardo naquele lugar especial, a não importância extrema do objectivo alcançado mas a importância de estar no processo a aprender a aprender com os pseudo fracassos e pseudo sucessos, a olhar para a história maior que liga e transcende os momentos fragmentados de vida e sobretudo a permitir-me estar o mais possível para voltar a sentir-me e a ser...”

“Foi-me dada a oportunidade de reviver emoções antigas de forma lúdica e descontraída, possibilitando-me tomadas de consciência de alguns bloqueios e hábitos defensivos, libertando-me da carga desse passado longínquo que eu teimava em alimentar e manter vivo em mim.
O facto de partilhar com outras pessoas e ouvir as suas partilhas ajudou-me a perceber a valorização subjectiva que por vezes atribuo a acontecimentos do passado, pois se vistos pelos olhos de um outro nada significam.”

“Para mim foi uma sessão suave de descompressão, senti-me confortável, gostei de desenhar, de interagir (ainda que esta parte, seja um dos pontos que eu preciso de trabalhar mais). São sessões com muita energia feminina, onde me sinto confortável e me é permitido ser eu, (é isso dá-me Tempo de Ser) e não ter de seguir uma "marcação" e isso dá-me tranquilidade é como se me estivesse a nutrir.”

"Ficou uma doce memória que guardo preciosa juntamente com as poucas da minha infância, quando ser criança era a minha Natureza e o meu viver, a alegria de uma tarde de criação, o alheamento do quotidiano adulto e cerebral que mata a espontaneidade, o gozo imenso de ser genuinamente eu, sem juízos qualitativos do que criava, sem expectativas...ficou uma peça de barro que ofereci a quem amo como tributo à sua feminina presença, ficou a inebriante recordação de uma tarde de liberdade...de estar solto...de vida."